sexta-feira, 26 de novembro de 2010

E a população pede sangue...



A mídia aplaude, o povo comemora, o jornal vende horrores (vende muito e vende mau, com U mesmo). Sobre os moradores... Concordo que eles estão cansados de guerra. A cena das 'bandeiras brancas' é comovente. Eles pedem paz à sociedade. Polícia e bandido.

No Santa Marta, onde eu vi, não tem escola e nem posto de saúde. A pintura está ótima para quem passa na São Clemente. Mas atrás do colorido tem casa de madeira com chão de terra batida. O bondinho não funciona com plenitude, o esgoto corre pelas vielas pra quem quiser ver.

A mídia está aplaudindo e não vejo motivo pra isso. Você se lembra de quando o helicóptero da polícia civil 'caçando' traficantes na Favela da Coréia, tem uns dois anos. E eles, mortos, rolavam morro abaixo. Talvez se lembre também de quando entraram - numa das milhares vezes - no Alemão e mataram 19 pessoas. Todos bandidos? E o famoso 174. A Globo transmitiu tudo ao vivo. O que saiu do controle para o Estado entrar no Alemão agora? 2014 (ano da Copa) era o ano previsto por Beltrame. O que deu errado?

Se ontem a polícia dizimasse aqueles bandidos em fuga, a mídia gritaria por direitos humanos. A polícia não fez por causa da mídia. Mas a população está pedindo sangue. E os jornais insistem na luta do bem contra o mal.

FOTO de Nancy Pavão: Polícia na Estrada Velha da Pavuna, Inhaúma.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As UPPs segundo Rodrigo Pimentel


Como muitos sabem, conversei com o ex-policial militar Rodrigo Pimentel (12 anos de PM e 7 de Batalhão de Operações Especiais) sobre a implantação das UPPs e seus rumos para minha pesquisa de Sociologia Urbana. Aqui está o resultado. Pimentel defende a ocupação como única medida capaz de coibir a disputa armada por territórios na cidade e aponta o risco de miliciarização das UPPs caso a não haja investimento na polícia militar do Estado do Rio de Janeiro.


A origem


“Com o fim da guerra ideológica pós-queda do Muro de Berlim e antes do terrorismo, os EUA traçaram como inimigo a cocaína e houve um processo de satanização da droga no mundo. No Rio, governos entendem as drogas como pior mal para a sociedade. Logo, vamos invadir esses guetos e matar os vendedores. Isso é absurdo, porque o que mata é a arma. Eu acreditei nisso: que estava promovendo segurança público quando entrava na favela e fazia apreensões de drogas.Entendi depois que a violência vinha da disputa de território para a venda drogas. Os traficantes dizem: 'as armas não são para atirar em policial, mas para garantir o meu ponto de venda'.”


A violência


“Entendendo a violência do Rio de Janeiro como uma disputa armada de território (para vender cocaína, botijão de gás superfaturado, maconha). Sendo assim, ela só poderia ser resolvida com a ocupação – num primeiro momento – militar do terreno. Acho que consumismo desenfreado gera um jovem que quer sair da invisibilidade através de marcas, roupas, mulheres, ouro. Pode ser essa a explicação para a participação de um jovem no grupo armado. Esa cultura de consumo é específica da cidade do Rio de Janeiro.”


A política de segurança no Rio de Janeiro


“Nos últimos 25 anos a estratégia de combate ao tráfico de drogas foi sempre a mesma: ações pontuais. Batalhões de polícia militar e delegacias de polícia civil (que atuaram ostensivamente) realizavam invasões para apreender armas e drogas. Essa foi a postura de todos os governos, independente da ideologia. Em cada alternância de governo, o processo era radicalizado. Houve uma escalada de operações que culminou com a 'gratificação faroeste' no governo Marcelo Alencar. Com o Garotinho, isso foi implementado com mais força. Com a Benedita da Silva, de orientação de esquerda, o governo teve a polícia que mais matou em sete meses.”


Retomada de território


“Cerca de 70% dos homicídios e dos roubos de carro na cidade se deram por causa dessa disputa. Assim, a melhor solução para acabar com essa violência é a ocupação, que foi tímida no governo Brizola, no morro da Providência. Era política de governo – não de estado – sem apoio. No governo Garotinho, uma nova tentativa foi feita com o Luiz Eduardo Soares, no Cantagalo e Pavão- Pavãozinho com o GPAE (Grupamento de Policiamento em Áreas Específicas): ocupação territorial para zerar homicídios. O projeto recebeu muitas críticas. Disseram que polícia estava ali para proteger traficantes.


A ocupação não acaba com o tráfico porque a demanda não cessa. Acho que a ocupação é eficiente, mesmo que desacompanhada de ações sociais contundentes, porque reduziu homicídios. Ela é suficiente porque preservou vidas humanas, mas para torná-la efetiva e poder desmobilizá-la daqui a um tempo, a ação social precisa existir.


A indicação é de um policial para 220 habitantes. Na UPP do Santa Marta, por exemplo, temos um policial para cada 35 habitantes. É uma necessidade emergencial para sufocar tráfico e retirar fuzis, mas precisamos criar condições para que essa juventude não crie gosto pelo consumo ou que tenha acesso a ele.”


O futuro das UPPs


“O ponto negativo desse processo é que a UPP é executada pela mesmo polícia de 30 anos. O risco disso é miliciarização num prazo de 5 ou 6 anos. Esse prognóstico pode ser evitado com implemento salarial para policial de UPP, com condição adequada de trabalho, com corregedoria e ouvidoria eficientes. Lamento dizer que a maioria dos policiais de UPP com os quais eu converso não estão satisfeitos e preferiam estar no BOPE combatendo bandido trocando tiro com traficante porque é mais viril, mais prestigiado, mais endeusado e mais glamurizado. Ser rambo é bonito, prevenir o crime é feio. Tudo isso é uma mentira. Eu queria sair da rotina do BOPE e ir para a rotina da ocupação porque já tinha certeza de que operação policial em favela não funcionava.


A UPP expulsou os traficantes e sinalizou o cumprimento da lei (de não permitir drogas). A pacificação vai alcançar os grandes complexos da cidade, independente de o governador querer ou não. A UPP saiu do controle do governo do Estado e agora é da sociedade, como acontece com as políticas com mais de 90% de aprovação.


Sou solidário em deixar o Complexo do Alemão por último. Não há como se ter ocupação simultânea e, se o Alemão fosse o primeiro, os traficantes de espalhariam por toda a cidade. Quando a UPP chegar até lá, eles não terão para onde ir. O traficante pode perceber que não tem mais espaço para realizar o business dele e deixar a atividade. É possível.


Acredito na polícia da pacificação. Sou entusiasta do processo. Defendo que o projeto vire lei e não possa ser desmontado em cinco ou seis anos. As unidades precisam permanecer no Rio até se apagar a cultura do narcotráfico, como aconteceu na Tavares Bastos [comunidade de Laranjeiras que é sede do BOPE]. E isso pode levar uma geração.”


E por falar em quem puxa o gatilho...

A pergunta continua: Quem puxa o gatilho?

domingo, 10 de outubro de 2010

Você ajuda a puxar esse gatilho?


No embalo dos meus ajustes na monografia, do resultado das eleições, de algumas críticas que li no jornal e das quais discordo sem surpresa e, claro, da estreia, fui ver Tropa de Elite 2 ontem. Adorei o filme. Nenhuma surpresa também, já que li o livro com certa paixão e vi o Tropa 1 tomada de alguma emoção.

O roteiro é impecável, as cenas de ação são muito bem dirigidas, a mistura de histórias que montou novos personagens foi muito bem alinhada e o 'Beto' grisalho é ainda melhor. Não pude não reproduzir esse comentário gracioso que ouvi da poltrona ao lado e do qual não discordo. Me permito o riso porque ele também esteve presente em muitos momentos do longa. Não direi aqui nada que prejudique quem não viu o filme ainda. Fiquem tranquilos. Só comentarei sobre o que todos já sabem.

O deputado defensor dos direitos humanos me lembrou uma colega do curso de Sociologia Urbana com a qual tive um debate caloroso - mesmo que por e-mail - sobre o assunto quando um PM atirou na cabeça de um assaltante que ameaçava uma refém com uma granada numa farmácia de Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Não sou de ciências sociais, todos sabem. Como ela mesma disse: "não acredito que você defende essa ação da polícia depois de ler e discutir tudo o que foi lido e discutido no curso sobre as razões que levaram aquele homem a estar naquela situação".

É, eu ajudei aquele PM a puxar aquele gatilho. Acho que meu pensamento está mais para Capitão Nascimento que para direitos humanos. Mesmo sendo capaz de entender o que deixou a cidade
assim, penso com dificuldade na possibilidade de a violência chegar perto de mim e eu pensar em direitos humanos. Acho que as reivindicações de diretos humanos deveriam vir antes da
violência com os tais direitos de cidadania dos quais os pobres são privados. Educação, saúde, emprego, urbanização e urbanidade.

Não, eu não defendo chacina. Minha dificuldade está em imaginar que, se num assalto a minha mãe estiver com a arma na cabeça dela - como já esteve há 30 anos num banco - e um policial puder encerrar aquele terror, eu ainda não pensaria nesses direitos humanos que vemos por aí. Falha minha. Mas não sei se quero pensar diferente, mesmo achando que deveria. A questão é que eu acho que os defensores desses direitos humanos também ajudam a puxar o gatilho. E viciado também ajuda. Mas quem lucra com isso não só puxa, como pensa no gatilho. E isso é grave. E essas pessoas só são combatidas com voto. E como pensar no voto quem não tem bens de cidadania? A escolha é plena ou viciada?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marina... você se pintou?


Marina... você se pintou?

Maurício Abdalla [1][1]

“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.



[1][1] Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

Seria trágico se não fosse cômico






segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O racismo já chegou perto de você?

A historinha aconteceu na Lapa, reduto da boemia carioca.

Um jovem achou uma carteira no chão e após conferir que o dono estava na mesa ao lado, chamou-o pelo nome e devolveu. Agradecimento? Eis que o dono relapso diz: Pô, você pegou a carteira e eu nem vi? Seria 'apenas' pura falta de educação se o jovem que devolveu gentil e educadamente não fosse negro.

O racismo já chegou perto de você?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tempos bárbaros

Uma pausa nos posts do Dona Marta hoje porque uma notícia me chocou muito nesta manhã: um condenado por homicídio nos EUA foi penalizado com fuzilamento por opção do próprio réu (leia a matéria na íntegra aqui). Há 14 anos esse tipo de penalidade não acontece.

Quem acompanha o blog sabe que estudo possíveis motivos para a violência e que, apesar de explicada, tenho dificuldade em justificar a violência por pensar que no lugar da vítima poderia estar meu pai, minha mãe, meu filho, meu irmão. Sentimento humano. Mas humano também foi o que percebi como bárbaro no fuzilamento de um condenado. Concordo com a perpétua em um sistema prisional eficiente, mas não defendo a pena de morte.

Acho natural do ser humano querer a morte de quem matou uma pessoa querida. Mas (o que pode ser contraditório)onde fica a coragem para aceitar um fuzilamento? Ou uma injeção letal, ou uma cadeira elétrica...

Ainda acredito num novo começo de era. De gente fina, elegante e sincera. E quero me incluir nessa era.

Cityando lamenta

... a morte do escritor José Saramago. E recomenda a LEITURA de "Ensaio Sobre a Cegueira". Ler o livro e não ver o filme ajuda a compreender melhor a mensagem.

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia." (José Saramago)

sábado, 5 de junho de 2010

Click Cityando

Flagrante na Conde de Bonfim, Tijuca, numa manhã qualquer. Porque passo lá todos os dias e vejo isso todos os dias. Ordem?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Cityando está feliz...

E reproduz a notícia boa: TRE-RJ cassa mandato de Rosinha e torna Garotinho inelegível.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/05/tre-cassa-mandato-de-rosinha-e-torna-garotinho-inelegivel.html

sábado, 15 de maio de 2010

Click Cityando: Spanta Neném





UPP no Dona Marta: Primeiras impressões

Os próximos posts do Cityando serão dedicados a impressões registradas durante meu trabalho de campo no Santa Marta, sobre como a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) impactou a população do morro.



Sim, a comunidade recebe bem quem é de fora. Sim, está acostumada a ser modelo. Lá foi a primeira favela do Rio a receber a UPP, a ter um esboço de urnanização e, por isso, ser alvo da curiosidade de artistas, cineastas e acadêmicos.

Sim, a parcela pequena da população com a qual conversei é ciente de que as melhorias beneficiam mais o asfalto e menos morro. Mas, segundo eles, "temos que tirar o nosso proveito".

Sim, a fama da polícia continua ruim. E as histórias já são conhecidas por nós. Agressão verbal, física e envolvimento dos policiais com as meninas do morro.

Não, a UPP não mudou radicalmente a vida daquelas pessoas. Pelo menos, essa é a impressão inicial. De fato, o medo de uma guerra repentina não existe mais. Mas agora a comunidade convive com roubos, brigas violentas entre vizinhos e até estupro. Ninguém prefere o tráfico ou recusa a ação do Estado através da polícia. Simplesmente enxerga com racionalidade os prós e os contras.

E segue a vida de batalha.

sábado, 10 de abril de 2010

AJUDE, com certeza você pode

O Cityando se mobiliza neste post para pedir ajuda. São muitos os necessitados e muitos os postos de recolhimento de ajuda. Certamente todos nós conhecemos alguém que está precisando.

Eu conheço a Laís, ex-colega de trabalho e informante no meu trabalho de campo da pós-graduação. O namorado dela é morador de Santa Teresa e perdeu a casa com tudo dentro, onde morava com a mãe e o irmão.

Acabei de conhecer também o sr. Evanir. Ele veio entregar minha geladeira nova e pediu para levar a antiga para um amigo que também perdeu tudo. MAs eu já havia oferecido a geladeira antiga para o namorado da Laís.

Roupas e eletrodomésticos usados. Por favor, o que não te serve pode ajudar a Laís (7144-3653) e Sr. Evanir (7604-5124).

domingo, 21 de março de 2010

Choque de realidade

A expressão da moda é "choque de ordem". E não é que essa fulana quis organizar a praia de Itacoatiara, na região oceânica de Niterói? Passei dois meses sem visitar o local e quando retornei, neste sábado, descobri que o estacionamento estava proibido em quase todos os lugares que antes eram vagas para carros. Tudo bem. Foi uma limpeza visual. Mas quem proibiu não ofereceu alternativas. Assim fica parecendo que Itacoatiara não quer receber visitantes além de seus nobres moradores. Feio isso.

O mais impressionante é que o estacionamento não pode...



Mas cachorro na areia pode...



Altinho pode...



E frescobol também pode!



Vale esclarecer que todos os registros foram feitos entre 11h e 14h, horário em que as atividades não são permitidas na beira-mar. Bem... sobre os cachorros... Dependemos do bom senso dos donos.

terça-feira, 2 de março de 2010

i Hasta la revolución !

Dou mais uma vez o metrô como exemplo. Mas dessa vez o foco da discussão é outro. Semana passada eu estava na estação Catete (parti de Botafogo) quando um problema na Central parou o sistema. Nem ia, nem vinha. Me devolveram o valor da passagem e percebi que o problema poderia ficar mais sério. Se os usuários resolvessem se rebelar, seriam chamados de vândalos, como acontece com os usuários da Supervia. Pobres são bárbaros no espaço dos pobres. Pobres são vândalos no espaço de ricos.

Outra vez, questionado por mim sobre a falta de ar condicionado, um vigilante do metrô me devolveu com outra pergunta: "Mas todas as composições estavam sem ar?", como se uma fosse aceitável. E disse ainda que a empresa estava investindo, mas que "acontece mesmo" de alguma composição estar sem ar condicionado. Nesse mesmo dia tentei ligar para o 0800, mas não consegui. Não é raro também algum passageiro, nessa situação, passar mal. Outro problema é o que fazem com os passageiros da Linha 2, já comentado por aqui.

Nosso governador não anda de metrô. A Agetransp não anda regulando bem. O 0800 da concessionária não me atende. Ouvi dizer que a previsão de estabilização do serviço é 2011. O MP deu 15 dias para a empresa regularizar a situação da Linha 1A por causa de risco de acidente na Central. A quem pedir ajuda?

Gritei para a imprensa e agradeço aqui aos jornalistas Fernando Molica (O Dia) e Ricardo Boechat (BandNews FM), que prontamente me ajudaram e gritaram junto comigo. Ambos me afirmaram que o assunto era recorrente em seus veículos.

Me marcou o comentário de Boechat por e-mail: “Já relembrei no ar, várias vezes, o quebra-quebra de 1959, que destruiu a antiga Cantareira e levou à estatização do serviço. As barcas melhoraram muito, usei-as por muitos anos, até voltarem à iniciativa privada (não sou contra, mas tem que funcionar). Acho que a coisa só vai mudar se a população chamar a si a reação. Não estimulo revoltas, mas entendo-as e solidarizo-me com os revoltosos."

Como respondi, chamar para si a reação é fundamental, mas acho que a nossa se perdeu em algum lugar da década de 80. O Estado precisa respeitar o povo de alguma forma e quem sabe temê-lo. Pode ser uma saída.

É tempo de revolução? É chegada a hora de uma reação. Diante disso, amadureço a idéia de produzir faixas para pendurar em minha janela. E busco simpatizantes. Além disso, tenho pensado com carinho em filiação política, que a meu ver seria uma forma de participar mais ativamente de uma mudança de rumo.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Magistério do RJ: Não há escolha possível

Abro este espaço de opinião para a colega de Sociologia Urbana da UERJ, Victoria Tomaz. Ela foi aprovada em concurso para o magistério estadual do Rio e conta a saga para ocupar o cargo.

Não há escolha possível

Sou formada em Ciências Sociais pela UERJ e, em 2008, prestei concurso para
o Magistério do Estado tendo sido aprovada em 25 º para a disciplina de Sociologia.

Em Janeiro deste ano recebi um telegrama solicitando meu comparecimento à Coordenadoria Regional Metropolitana X munida de todos os documentos para o processo de admissão, condicionado a prévia aprovação pela perícia médica.

Confesso que relutei em comemorar e até mesmo em aceitar, não só por conta da baixa remuneração (R$ 600,00) como, também, pelo conhecimento da situação atual do magistério no estado do Rio de Janeiro. Ponderei com familiares e amigos mais próximos se deveria aceitar e acabei me rendendo aos argumentos do que me diziam: "aceita, afinal é uma oportunidade! Veja como é, já que passou, agora não custa nada tentar".

Custa. E caro. Os exames admissionais são de responsabilidade do candidato, isto é, você paga inscrição, faz a prova, é aprovado, é convocado por telegrama e arca com todas as despesas dos exames médicos admissionais que não são poucos: sangue, urina, laudo de oftalmologista e laudo de otorrino com uma videolaringoscopia.

Exames pagos e realizados. Tudo certo, apesar de continuar míope, já podia mostrar para amigos minha garganta em DVD.

Próximo passo: Perícia médica.

Fui até o centro da cidade realizar a perícia quando, após enfrentar uma de umas quarenta pessoas, aguardar ser chamada por uma hora e reclamar da demora, fui atendida por um médico que fez uma leitura dinâmica dos laudos em 20 segundos, perguntou se eu estava com pneumonia (?) e disse: "Ok, pode chamar o próximo, por favor".

Com a aprovação do médico biônico em mãos, restava-me aguardar o dia da apresentação para escolha da escola na qual iria trabalhar.

Dia 24/02 ,às 09:40h, cheguei na Metropolitana X para a escolha da escola, agendada para as 10:00h. Enquanto esperava conversando com os colegas de profissão, sobre os percalços para a realização dos exames médicos, um senhor da recepção informou que poderíamos subir que o procedimento de escolha teria início.

Subimos, sentamos, esperamos. Mais de duas horas.

Quase três horas depois, alguns professores que haviam feito a escolha no dia anterior começaram a retornar, relatando casos alarmantes: "cheguei na escola e não tinha vaga pra mim"; "a diretora informou que faltava professor de Geografia, eu sou de História, mas ela me disse que se eu quisesse eu podia dar aula de Geografia"; "não posso dar aula em quatro escolas diferentes, pagarei de passagem de ônibus o que receberei de salário".

A sensação de que estava numa "fria" crescia na mesma proporção absurda dos relatos.

Às 14h fui chamada para fazer a minha escolha. Minha não, a escolha que a funcionária tinha para mim: "Só tem vaga de 12 tempos na Tijuca na escola Antonio Prado Junior, você vai querer essa ou vai querer ficar procurando vagas pingadas em outras escolas piores professora?"

"Eu queria saber se tem horário para mim em uma escola próxima da minha casa, você pode verificar?"

"Claro, mas acho difícil que a diretora atenda o celular essa hora e só ela pode dar essa informação".

Como é que é? Só uma pessoa sabe dizer se uma escola com centenas de alunos tem vaga para professor? Não há uma secretaria? Um funcionário da escola bem informado? Vocês da coordenadoria regional de educação não sabem? O que estou fazendo aqui então?

Realmente eles não sabiam, descobri isto da pior forma.

Aceitei a escola "que tinha vaga na Tijuca" e fui até lá me apresentar. A diretora me recebeu rindo e lembrando Newton, me explicou que era uma questão de Física "não posso ter quatro professores dando aula na mesma sala, para a mesma turma, no mesmo horário. Você é a quarta pessoa que a Metro X envia hoje para assumir Sociologia aqui, não tenho vagas".

Aquilo não era mais uma "fria", passava a ser falta de consideração, falta de respeito, falta de ética, de profissionalismo, ausência de tudo que se poderia querer (e exigir) naquele momento.

Retornei a Metropolitana X, expliquei o ocorrido ouvindo em seguida que teria de esperar para escolher outra escola.

Esperar. De novo. Eram quase 17h e eu não havia nem sequer almoçado.

Pedi respeito, exigi uma retratação pelo que havia ocorrido, esperei de pé, em frente a mesa da funcionária que incomodada com a situação e com minha presença procurou outras escolas no sistema para me "encaixar".

Durante a procura outras funcionárias reclamavam da minha postura, diziam que eu estava tomando tempo demais e que era para eu "escolher o que tinha e depois me virar, porque na realidade tudo mudava na escola".

Escolhi os tempos e as escolas. Me dividi em duas, quatro dias e sete turmas de 40 alunos cada. Não sei se efetivamente poderei ministrar aulas nesses tempos, só após uma conversa pessoal com a diretora de uma das escolas saberei. Não sei se darei conta de tantos alunos, nem mesmo se conseguirei conciliar os horários de estudo com os horários picados de aulas.

O que sei é que todo o ocorrido neste relato, somado a falta de perspectiva dos professores que já atuam no magistério, só aumentaram a minha descrença na gestão da Educação no Estado do Rio de Janeiro.

Sei também que meu problema nem é tão grande perto do de alguns professores de Espanhol que às 18:40h receberam a notícia de que não havia vagas para alocar nenhum deles e que eles seriam "devolvidos" para que a Secretaria de Educação, responsável pela convocação, decidisse o destino desses professores que estudaram quatro anos em uma Universidade, que foram aprovados em um concurso, que fizeram exames caros, que esperaram horas por atendimento naquele dia e que iam embora, como eu, sem solução e literalmente, sem escolha.

O que falar dos alunos que tiveram aulas iniciadas no inicio de Fevereiro e até hoje estão (e quem sabe ficarão) sem professores para ministrar aulas?

O ocorrido ontem na Metropolitana X, reflete a atual situação da Educação no Estado do Rio de Janeiro, descaso total e absoluto com professores e alunos. Que cidadão são desejará ser professor do Estado nessas condições?

Se o início, até então incerto, se deu da forma que ocorreu comigo, o final eu já sei: a escolha pelo magistério no Estado do Rio de Janeiro não é difícil. É impossível!

Victoria R. Tomaz

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A bandalha continua

Estação sempre cheia
Trem sem ar condicionado
E se dá volta e meia
Passageiro desmaiado

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Click Cityando de Verão

De volta no verão 2010. Clique flagrado em Arraial do Cabo. Jet-skis e embarcações não respeitam os banhistas e nem as bóias amarelas que delimitam o espaço. Mas a farra acabou quando a Guarda Costeira chegou. Sim, alguns setores do Estado funcionam.





Cityando de olho!