Texto enviado por companheira de sala de aula da pós:
OS HERÓIS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA
Há menos de um mês, seis traficantes foram encurralados por policiais e fizeram uma família refém na favela Vila dos Pinheiros, na Maré, zona norte do Rio de Janeiro. A condição para a rendição era emblemática: os homens queriam a presença da mídia e de familiares para que, segundo a própria imprensa noticiou, lhes fosse garantido o direito à vida. Houve a negociação e os seis foram presos.
Episódios de seqüestro público regularmente terminam dessa forma. As tragédias costumam acontecer justamente quando a polícia toma uma medida precipitada, como no caso do ônibus 174. Afinal, é razoável afirmar que a intenção de quem se esconde por trás de um refém seja a preservação de sua própria vida, independente da agressividade, do desespero e do medo que esteja sentindo. É fundamental, portanto, que a negociação seja incansável: a rendição é praticamente certa e a busca deve ser, sempre, pela resolução do foco de conflito sem que haja a morte de nenhum dos
envolvidos.
Não foi o que aconteceu na ação policial do dia 25 de setembro de 2009, no bairro de Vila Isabel. Um tiro de fuzil acertou a cabeça de Sergio Ferreira Pinto, que, cercado por policiais do 6º Batalhão e já baleado na barriga, fazia como refém Ana Cristina Garrido, dona de uma farmácia na Rua Pereira Nunes. Apesar de a ação ter terminado em uma morte violenta, o caso de Vila Isabel foi festejado efusivamente por quase todos os meios de comunicação.
O policial que efetuou o disparo foi o major João Jacques Busnello, que a imprensa imediatamente elegeu como novo herói nacional. Há cerca de cinco meses, o mesmo nome estampou os jornais: Busnello tinha sido preso em flagrante no estádio do Maracanã por lesão corporal dolosa, prevaricação e abuso de autoridade. Esse, no entanto, não é o crime mais grave atribuído ao major.
Em setembro de 1998, onze anos antes da ação policial em Vila Isabel , o jovem recruta do exército Wallace de Almeida caiu baleado pelas costas na porta da casa de sua mãe, na favela da Babilônia, na zona sul da cidade.
A equipe chefiada pelo então tenente Busnello – que já era conhecido pela truculência e arbitrariedade com que costumava agir no local – invadiu a residência, insultou parentes do rapaz e impediu o socorro imediato a Wallace, que acabou sendo arrastado morro abaixo pelos próprios policiais e faleceu logo após sua entrada no hospital.
Embora todas as provas apontassem para execução, o homicídio de Wallace – que tinha 18 anos, era negro e morador de favela – foi registrado como “morte em confronto com policiais”. A família denunciou João Jacques Busnello pelo assassinato, mas, como de praxe em casos de “auto de resistência”, o Tribunal de Justiça não aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público em 2007 – nove anos depois.
O caso chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que considerou que o Estado brasileiro não havia sido capaz de responsabilizar os autores da execução de Wallace. A OEA determinou que fosse promovida a plena reparação dos familiares de Wallace, o que forçou o governo do estado do Rio de Janeiro a realizar uma cerimônia oficial no último dia 25 de agosto – exatamente um mês antes do último
disparo de Busnello.
O caminho trilhado por João Jacques Busnello ao longo dos últimos onze anos é peculiar. O oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi acusado da execução de um rapaz negro, foi promovido a capitão, passou pelo BOPE, assumiu o comando do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, foi preso por lesão corporal dolosa, até que, já elevado ao posto de major, se tornou “herói” na televisão e nos principais jornais, onde se expôs orgulhoso como o protagonista de mais uma ação da Polícia Militar que termina com a morte de um rapaz negro. Para coroar a carreira do policial Busnello, um deputado já anunciou que vai lhe indicar para receber a Medalha Tiradentes.
Essa trajetória pode ser considerada um símbolo da política de segurança do governo do estado do Rio de Janeiro, que orienta e incentiva crimes e abusos dos agentes do Estado e que conta os mortos como uma prova de sua eficiência. Por sua vez, a reação dos meios de comunicação aponta para a naturalização da violência. É inaceitável que uma ação que termina em morte seja festejada.
FONTE: *Justiça Global*
Após um breve debate com ela, segue a minha opinião e minha justificativa em relação à Sociologia Urbana:
De fato a solução para a violência não é o extermínio. Somos todos vítimas. Quem mata, quem morre, quem aplaude, quem fica indiferente e quem é contra.
Concordo também que o currículo do policial é dos piores, reflexo da política de segurança de um governador igualmente corrupto. E a solução para o problema é política. ONG eficiente com um Estado que não atua, enxuga gelo.
Mas sou humana. E nessa condição o que acho inaceitável é ver minha mãe, meu pai, amigos, vizinhos - cidadãos - com uma granada na cabeça. Entre o cidadão e o bandido. Me desculpe, mas que morra ele SIM, já que ninguém atenta contra a vida de governantes no Brasil.
Antes de discorrer sociologicamente sobre o tema, me coloco no lugar do outro. Eu, como simples cidadã que sou - sem pretensão alguma de ser cientista social -, sou a favor dos direitos humanos dos cidadãos. E a favor de que todos sejam inseridos na categoria de cidadãos.
Com os estudos, textos e debates entendi muito mais dessa realidade e dos motivos que levam a ela. O que nada tem a ver com a minha opinião sobre essa realidade. A mudança, pra mim, só tem um caminho. Vem de cima para baixo - do governante sério para a população eleitora amadurecida -, já que nossa história não favorece uma revolução popular. E luto por isso. Me sensibilizo sim com quem teve sua cabeça como alvo e muito também com quem estava com a granada na cabeça. Talvez a atitude política dela tenha contrubuído pra isso. Mas não sou hipócrita de defender o bandido.
Procurei as ciências sociais buscando explicações. E achei. Mas não compro idéias hipócritas prontas.
Obrigado, prefeito!
Há 9 anos